sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Emigração na transição da centúria (1900-1902): uma breve síntese



Quem não tem histórias de emigração na família ou na sua aldeia? A Emigração há muito que tem mobilizado os portugueses para outras paragens em busca de uma vida melhor. Neste artigo trataremos deste fenómeno nos anos1900-1902, na transição do século XIX para o XX, durante uma monarquia há muito decadente e num Portugal agonizante...

Segundo os dados do Censo de 1º de Dezembro de 1900, os concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo tinham 22256 e 13750 habitantes, respectivamente, sendo a maioria do sexo feminino.

As freguesias do concelho de Mangualde com mais habitantes (>1500) eram Mangualde, onde se situa a sede de concelho, Santiago de Cassurrães, Chãs de Tavares e Cunha Baixa, por outro lado as menos populosas (<500).>1500) nas freguesias de Pindo, Ínsua, onde se situa a sede de concelho, e Castelo de Penalva, registando-se apenas na freguesia de Mareco um número de habitantes inferior a 500.

A presença de habitantes naturais de outras partes do território português é insignificante, não ultrapassando os 6,2% da população total no concelho de Mangualde e os 5,5% no concelho de Penalva do Castelo.

O número de estrangeiros que viviam nestes concelhos era residual, 15 no concelho de Penalva do Castelo e 17 no de Mangualde. Se neste último concelho o maior número de estrangeiros se regista na freguesia onde se situa a sede de concelho, no concelho de Penalva do Castelo esta freguesia apresenta o número mais baixo, registando-se o maior número na freguesia mais oriental do concelho, Antas.

A maioria da população, nos dois concelhos, era solteira, sendo a diferença entre solteiros e casados de cerca 50%. Os viúvos não ultrapassavam os 6% nos dois concelhos, e os divorciados eram parcos registando-se apenas 7 casos no concelho de Mangualde e 2 no de Penalva do Castelo.

Quanto à Instrução, a maioria da população dos dois concelhos não sabia ler, registando-se um maior número de pessoas sem saber ler no concelho de Mangualde, 16% da população total, contra os 12,4% da população total registados no concelho de Penalva do Castelo.

A população era predominantemente jovem, mas notam-se já um elevado número de indivíduos com mais de 50 anos.

Ao contrário da ideia feita de que na geração dos nossos antepassados as famílias eram numerosas, em 1900, o que corresponde no meu caso à geração dos meus bisavós, a maioria das famílias eram compostas por 1 a 4 pessoas.

Em ambos os concelhos não podemos estabelecer uma relação directa entre o número de emigrantes e o número de habitantes, uma freguesia populosa pode não corresponder a uma freguesia com um elevado número de emigrantes. A localização geográfica também parece não ter influência no número de emigrantes, pois regista-se números elevados ou baixas tanto em zonas centrais dos dois concelhos, como em freguesias periféricas e longe das principais vias de circulação.

O peso da população emigrante no cômputo da população total, registada em 1900, é de 15,3‰ no concelho de Mangualde e de12,5‰ no concelho de Penalva do Castelo.

A maioria da população emigrante é do sexo masculino sendo 85% do número total de emigrantes.

Era de entre aqueles que exerciam uma actividade no sector agro-pecuário que mais gentes saía em busca de uma vida melhor noutro continente.

Já com uma idade adulta, certamente depois de cumprir os serviço militar, no caso dos homens, a maioria dos emigrantes decidia partir, tendo entre 20 e 30 anos. Se a maioria dos homens emigravam já depois de se casarem, e com certeza de cumprirem o serviço militar, a maioria das mulheres, por sua vez, emigravam ainda solteiras.

Embora a maioria dos emigrantes fossem casados estes partiam quase sempre sozinhos, levando esporadicamente os filhos e/ou a esposa e num caso a criada.

No geral regista-se um aumento da emigração no período em estudo, mas efectivamente este só se regista no concelho de Mangualde. Os meses escolhidos para emigrar são os meses próximos dos equinócios, sendo os meses estivais os que registam o menor número de emigrantes.

As testemunhas que abonavam a favor dos requerentes deviam ser engajadas pelas agências de bilhetes ou por engajadores, pois identificamos “autênticos profissionais” de testemunhar, por outro lado os próprios alquiladores que transportavam as pessoas serviam de testemunhas. Recorria-se, igualmente, a pessoas com alguma instrução como comerciantes, sacerdotes e advogados, devendo ser estes últimos também quem trataria do processo de passagem do passaporte.

A maioria das pessoas declaravam que compravam bilhetes ao agente Lemos, de Mangualde. regista-se também a existência de dois agentes em Viseu, Alberto Salles e Frederico Silva, os restantes bilhetes eram comprados em Lisboa e Porto.

A barra de Lisboa, para onde tinham ligação ferroviária, constituía a principal porta de saída, e o Brasil o principal país de destino, verificando-se também um número significativo de emigrantes com destino a São Tomé e Príncipe.

Verificaram-se seis casos de reagrupamento familiar, e quatro casos de emigrantes menores[1].

A maioria dos emigrantes faziam-no para destinos onde conheciam alguém que iria servir de primeiro contacto e intermediário com o novo mundo. Assim, verificamos 37 casos de famílias de emigrantes, ou seja famílias em que emigraram mais do que um filho. Verificamos que a maioria dos irmãos emigravam para o mesmo destino e destes a maioria viaja em data diferente.

São poucos os casos, 16, em que se verifica um regresso e uma nova partida, verificando-se em quatro casos a partida de mais uma pessoa.


[1] Salientamos que neste caso emigrantes significa titulares de termos de identidade, pois um termo de identidade podia abranger o seu titular e familiares.


Este texto é um resumo de um trabalho académico que pode ser consultado aqui. No apêndice do trabalho encontram-se todos os termos de identidade emitidos no 2º semestre de 1900 e nos anos de 1901 e 1902.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Disponível a minha dissertação de Mestrado


Foi este o título que escolhi para a minha dissertação de mestrado em Estudos do Património que apresentei à Universidade Aberta sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Oliveira Ramos.

A defesa ocorreu no salão nobre do Palácio Ceia, sede da Universidade Aberta, perante um júri constituído pelo Prof. Dr. João Luís Cardoso (Presdidente do júri e Director do Mestrado), pelo Prof. Dr. João Luís Inês Vaz (Arguente) e pelo Prof. Dr. Paulo Oliveira Ramos (Orientador). Deliberou o júri atribuir a classificação máxima de Muito Bom.
Passados alguns meses voltei a olhá-la e introduzi algumas correcções, que vão devidamente assinaladas, algumas delas indicadas pelo arguente da dissertação.

Encontra-se a partir de hoje disponível no meu site.

Aqui quero expressar o meu Bem-Haja a todos quantos me ajudaram ao longo desta longa caminhada.

Dedico-a aos meus Pais e à memória de alguém muito especial.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sepultura medieval do Alto da Quintinha: guardava ossos com mil anos


Em Julho de 2005 durante os trabalhos de construção da linha de electricidade de ligação à Sub-estação de Mangualde, foi descoberta a sepultura medieval do Alto da Quintinha. A mesma foi identificada pelos trabalhadores que aí procediam à escavação de uma vala para implantação de um dos apoios desta infra-estrutra. A sepultura, que se localiza na periferia da actual cidade de Mangualde, junto ao cruzamento da Estrada Nacional 16 com a Estrada Nacional 234 (freguesia e concelho de Mangualde), foi parcialmente destruída pela maquinaria que laborava então, facto que motivou uma intervenção arqueológica de emergência levada a cabo pelo signatário.

A sepultura foi escavada no granito deteriorado que constitui a rocha de base, tendo os seus construtores destacado a área da cabeça, definindo claramente o antropomorfismo na arquitectura deste sepulcro. A cobertura dos defuntos aí inumados era feita com lajes de granito e os espaços entre estas lajes e entre estas e a sepultura foram preenchidos por terra, telha grosseira e calços de granito. Na zona da cabeceira, a uma cota superior à das lajes de cobertura, foram identificadas outras lajes que, cremos, poderão corresponder a uma cobertura anterior.

A sepultura tinha ossos humanos conservados, contudo, encontravam-se em fraco estado de preservação, em particular as extremidades e esqueleto axial, muito provavelmente devido à acidez característica dos solos graníticos. Não obstante o estado de conservação dos ossos, foi possível identificar dois indivíduos adultos do sexo masculino. A estatura que foi possível de calcular a partir da análise desses ossos aponta para que um dos inumados tivesse 170 cm de altura, valor comum entre as populações de características latinas. O estudo dos ossos permitiu ainda reconhecer que os indivíduos inumados nesta sepultura padrões tinham actividades físicas de reduzido esforço, coerentes com sociedades de características sedentárias.

A análise de paleopatologias ou lesões degenerativas nos esqueletos, apenas determinou evidências que indicam o contacto de um dos indivíduos com um foco de infecção a determinada altura da sua vida, porém, não foi possível identificar a bactéria específica por essa infecção.

Dado a raridade do achado e a escassez de dados cronológicos precisos para o mundo funerário rupestre realizou-se uma datação de radiocarbono por método convencional. A calibração do resultado obtido forneceu um intervalo de tempo entre 890-1020, isto é o enterramento de um dos indivíduo aí identificados ocorreu num momento entre estas duas datas, sendo probabilisticamente mais provável que esse acontecimento se tenha dado durante o século X. Todavia esta datação apenas data o evento da morte deste defunto, sendo a sepultura certamente mais antiga, já que, tal como hoje, as sepulturas eram sistematicamente reutilizadas. A identificação de dois indivíduos não significa, aliás, que estes tivessem sido os únicos a ser aí inumados, uma vez que a deficiente conservação do material ósseo poderá ter determinado a decomposição total de restos osteológicos de outras eventuais inumações.

A singularidade da sepultura do Alto da Quintinha deve-se ao facto de nela se terem conservado restos ósseos. A conservação de ossos em terrenos graníticos é rara e ocorre normalmente em cemitérios com longa e continuada utilização. Pode ser essa a situação já que há referências orais sobre o aparecimento de mais ossadas nas imediações, o que sugere estarmos perante uma necrópole cuja dimensão é, por agora, impossível de determinar.

O estudo da sepultura e a datação de um dos enterramentos nela efectuados constitui, actualmente, o elemento cronológico absoluto mais antigo para a construção de sepulturas escavadas na rocha antropomórficas na área das Beiras, tendo este tipo de sepulcros perdurado pelo menos até ao século XV.

Texto da autoria de 
Pedro Pina Nóbrega, Filipa Neto e Catarina Tente, 
publicado no jornal Notícias da Beira, de 20-05-2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mangualdenses e Penalvenses do RI 34 mortos da 1ª Grande Guerra


Na 1ª Grande Guerra fizeram parte do Corpo Expedicionário Português militares do Regimento de Infantaria 34 aquartelado em Pinhel.

Quem hoje visita esta cidade beirão poderá ver o obelisco erigido em memória dos combatentes tombados no campo de batalha.

Do concelho de Penalva do Castelo tombaram os seguintes combatentes:
  • Sold Joaquim Fernandes, de Sezures
  • Sold António d'Albuquerque, de Castendo
  • Sold António Fernandes, de Esmolfe
  • Sold António Correia, de Pindo de Cima
  • Cab Aníbal Martins Araújo, de Ínsua
  • Sold António Ferreira Domingos, de Ínsua
  • Sold João dos Santos, de Ínsua
Do concelho de Mangualde tombaram os seguintes combatentes:
  • Cab Augusto Ribeiro Paes Torres, de Mangualde
  • Sold Manuel de Loureiro, de Espinho
  • Sold Lucas Martins, da Cunha Alta
  • Sold António dos Santos Loureiro, de Alcafache
  • Sold José Pires, de Almeidinha
  • Sold Joaquim d'Almeida, de Outeiro
  • Sold Henrique d'Azevedo, de Chãs de Tavares
  • Cab Tiago Fernandes, de Várzea de Tavares

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sepultura do Alto da Quintinha: escondia ossos com mil anos

Apresentei hoje ao V Congresso de Arqueologia do Interior Norte e Centro de Portugal, em Figueira de Castelo Rodrigo, uma comunicação sobre a Sepultura Medieval do Alto da Quintinha (Mangualde), em colaboração com Filipa Neto e Catarina Tente.

A Sepultura do Alto da Quintinha é uma sepultura escavada na rocha descoberta em 2005 e onde se conservavam ossos que datam do séc. X.

Partilho aqui a apresentação que suportou a comunicação.








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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Amanhã e depois...


Está a decorrer o V Congresso de Arqueologia do Interior Norte e Centro organizado pela Parque Arqueológico do Vale do Côa e pela Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão.

Na 6ª feira em Figueira de Castelo Rodrigo apresentarei, com Filipa Neto e Catarina Tente, uma comunicação sobre a Sepultura escavada na rocha do Alto da Quintinha (Mangualde).

Neste mesmo dia à tarde o mangualdense Fernando Pau-Preto também fará uma intervenção cujo tema não consta no programa.

Amanhã na Mêda será a vez do António Tavares apresentar uma comunicação sobre «uma nova via”na velha rede viária romana de Mangualde. estaremos no caminho certo?»




de volta à normalidade...

... depois da tempestade esperemos que venha a bonança....

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Leitura recomendada

Ilídio Leandro, bispo de Viseu, não retira uma vírgula ao que tem dito e escrito sobre temas polémicos no seio da Igreja Católica.

Lamenta que algumas das suas posições tenham sido reveladas fora do contexto, mas mantém a defesa do uso do preservativo para evitar doenças e da separação de casais em casos de violência doméstica.

Apoia o fim do celibato dos padres e condena o enriquecimento ilícito. Em entrevista ao "Jornal de Notícias" realça a solidariedade de outros bispos, diz não estar a ser perseguido por delito de opinião, mas revela perplexidade pelo "fundamentalismo" expresso por leigos de vários cantos do Mundo.

Continuar a ler aqui.

domingo, 3 de maio de 2009

Não está fácil...

Por estas bandas as coisas não estão fáceis! Uma nova realidade bateu à porta... e a vida deu uma cambalhota!


Para descontrair vou tentar ir a este concerto-oração da Claudine Pinheiro.

Aconselho a todos. Hoje no Seminário Maior de Viseu às 18h.


Entretanto este blogue deve entrar um pouco em hibernação...