Quem não tem histórias de emigração na família ou na sua aldeia? A Emigração há muito que tem mobilizado os portugueses para outras paragens em busca de uma vida melhor. Neste artigo trataremos deste fenómeno nos anos1900-1902, na transição do século XIX para o XX, durante uma monarquia há muito decadente e num Portugal agonizante...
Segundo os dados do Censo de 1º de Dezembro de 1900, os concelhos de Mangualde e Penalva do Castelo tinham 22256 e 13750 habitantes, respectivamente, sendo a maioria do sexo feminino.
As freguesias do concelho de Mangualde com mais habitantes (>1500) eram Mangualde, onde se situa a sede de concelho, Santiago de Cassurrães, Chãs de Tavares e Cunha Baixa, por outro lado as menos populosas (<500).>1500) nas freguesias de Pindo, Ínsua, onde se situa a sede de concelho, e Castelo de Penalva, registando-se apenas na freguesia de Mareco um número de habitantes inferior a 500.
A presença de habitantes naturais de outras partes do território português é insignificante, não ultrapassando os 6,2% da população total no concelho de Mangualde e os 5,5% no concelho de Penalva do Castelo.
O número de estrangeiros que viviam nestes concelhos era residual, 15 no concelho de Penalva do Castelo e 17 no de Mangualde. Se neste último concelho o maior número de estrangeiros se regista na freguesia onde se situa a sede de concelho, no concelho de Penalva do Castelo esta freguesia apresenta o número mais baixo, registando-se o maior número na freguesia mais oriental do concelho, Antas.
A maioria da população, nos dois concelhos, era solteira, sendo a diferença entre solteiros e casados de cerca 50%. Os viúvos não ultrapassavam os 6% nos dois concelhos, e os divorciados eram parcos registando-se apenas 7 casos no concelho de Mangualde e 2 no de Penalva do Castelo.
Quanto à Instrução, a maioria da população dos dois concelhos não sabia ler, registando-se um maior número de pessoas sem saber ler no concelho de Mangualde, 16% da população total, contra os 12,4% da população total registados no concelho de Penalva do Castelo.
A população era predominantemente jovem, mas notam-se já um elevado número de indivíduos com mais de 50 anos.
Ao contrário da ideia feita de que na geração dos nossos antepassados as famílias eram numerosas, em 1900, o que corresponde no meu caso à geração dos meus bisavós, a maioria das famílias eram compostas por 1 a 4 pessoas.
Em ambos os concelhos não podemos estabelecer uma relação directa entre o número de emigrantes e o número de habitantes, uma freguesia populosa pode não corresponder a uma freguesia com um elevado número de emigrantes. A localização geográfica também parece não ter influência no número de emigrantes, pois regista-se números elevados ou baixas tanto em zonas centrais dos dois concelhos, como em freguesias periféricas e longe das principais vias de circulação.
O peso da população emigrante no cômputo da população total, registada em 1900, é de 15,3‰ no concelho de Mangualde e de12,5‰ no concelho de Penalva do Castelo.
A maioria da população emigrante é do sexo masculino sendo 85% do número total de emigrantes.
Era de entre aqueles que exerciam uma actividade no sector agro-pecuário que mais gentes saía em busca de uma vida melhor noutro continente.
Já com uma idade adulta, certamente depois de cumprir os serviço militar, no caso dos homens, a maioria dos emigrantes decidia partir, tendo entre 20 e 30 anos. Se a maioria dos homens emigravam já depois de se casarem, e com certeza de cumprirem o serviço militar, a maioria das mulheres, por sua vez, emigravam ainda solteiras.
Embora a maioria dos emigrantes fossem casados estes partiam quase sempre sozinhos, levando esporadicamente os filhos e/ou a esposa e num caso a criada.
No geral regista-se um aumento da emigração no período em estudo, mas efectivamente este só se regista no concelho de Mangualde. Os meses escolhidos para emigrar são os meses próximos dos equinócios, sendo os meses estivais os que registam o menor número de emigrantes.
As testemunhas que abonavam a favor dos requerentes deviam ser engajadas pelas agências de bilhetes ou por engajadores, pois identificamos “autênticos profissionais” de testemunhar, por outro lado os próprios alquiladores que transportavam as pessoas serviam de testemunhas. Recorria-se, igualmente, a pessoas com alguma instrução como comerciantes, sacerdotes e advogados, devendo ser estes últimos também quem trataria do processo de passagem do passaporte.
A maioria das pessoas declaravam que compravam bilhetes ao agente Lemos, de Mangualde. regista-se também a existência de dois agentes em Viseu, Alberto Salles e Frederico Silva, os restantes bilhetes eram comprados em Lisboa e Porto.
A barra de Lisboa, para onde tinham ligação ferroviária, constituía a principal porta de saída, e o Brasil o principal país de destino, verificando-se também um número significativo de emigrantes com destino a São Tomé e Príncipe.
Verificaram-se seis casos de reagrupamento familiar, e quatro casos de emigrantes menores[1].
A maioria dos emigrantes faziam-no para destinos onde conheciam alguém que iria servir de primeiro contacto e intermediário com o novo mundo. Assim, verificamos 37 casos de famílias de emigrantes, ou seja famílias em que emigraram mais do que um filho. Verificamos que a maioria dos irmãos emigravam para o mesmo destino e destes a maioria viaja em data diferente.
São poucos os casos, 16, em que se verifica um regresso e uma nova partida, verificando-se em quatro casos a partida de mais uma pessoa.
[1] Salientamos que neste caso emigrantes significa titulares de termos de identidade, pois um termo de identidade podia abranger o seu titular e familiares.
Este texto é um resumo de um trabalho académico que pode ser consultado aqui. No apêndice do trabalho encontram-se todos os termos de identidade emitidos no 2º semestre de 1900 e nos anos de 1901 e 1902.
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