quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Leite de Vasconcellos e o concelho de Mangualde II



Leite de Vasconcellos e o concelho de Mangualde
II – Visita a Mangualde em 1892 e a ideia de Museu Municipal


Alberto Osório de Castro, desde a descoberta da Raposeira em 1889, que pedia a Martins Sarmento para vir ver as ruínas e sensibilizar a sociedade mangualdense para a sua protecção. Tal nunca foi possível, tendo Martins Sarmento sugerido o nome de Leite de Vasconcellos que na altura já se tinha evidenciado no campo da Arqueologia e Etnologia.
O ilustre arqueólogo deslocou-se a Mangualde, aproveitando a facilidade do Caminho de Ferro, em Setembro de 1892 tendo nessa altura procedido ao reconhecimento da Raposeira e de inúmeros vestígios arqueológicos dispersos de que lhe foram dando conta e procedeu a escavações arqueológicas na Anta da Cunha Baixa, na Orca dos Padrões e no Castro do Bom Sucesso.
De todas esta sua actividade deu conta em dois artigos publicados no jornal local “A Reacção”, de 11 e 18 de Setembro daquele ano.
No primeiro destes dois artigos Leite de Vasconcellos lança o desafio de ser criado em Mangualde um pequeno museu municipal, que fosse o embrião para outro maior no futuro. Neste museu se recolheriam as diversas peças arqueológicas já encontradas, quer na Raposeira, quer noutros sítios.
O plano do museu traçado pelo Mestre Leite no mesmo artigo contemplava quatro secções:
1º) objectos pré-históricos achados nas Antas e nas mamoas (machados, facas, goivas, amuletos, etc.); desenhos fieis de ambas estas espécies de monumentos, e as respectivas plantas;
2º) objectos luso-romanos achados nos arredores do monte da Sr.ª do Castelo e em diferentes outras estações arqueológicas; são eles: telhas de rebordo, fragmentos de vasos lisos e ornamentados, lucernas, mós de moinho, moedas, colunas, etc.
3º) objectos que por ventura se encontrem da idade média e da renascença por cá, a saber. Armas, armaduras, móveis de pau preto e de couro, louças de fábricas nacionais, etc.
4º) objectos de etnografia moderna, que representem as industrias e os costumes populares, como louça de barro, trajos, amuletos, etc.

Infelizmente o desafio não foi seguido e até hoje, já lá vão mais de cem anos, não foi criado um museu municipal no nosso concelho. Assim, se perderam muitas peças para outros museus nacionais e regionais, e quando digo perderam-se, quero dizer mesmo perderam-se, pois muitas já não se conhece o seu paradeiro nos ditos museus.
Também hoje muitas peças arqueológicas e etnográficas se encontram recolhidas por particulares e associações locais à espera de um dia terem lugar no Museu Municipal.
Desconheço se alguma destas peças estará relacionada com o porco, mas tenho a certeza que cada uma dela testemunha um pedaço da nossa história e da nossa cultura, que cabe a cada um de nós preservar.

Publicado no jornal "Noticias da Beira", n.º 2433, 05-09-2008, p. 9

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